Li estes dias na internet notícia
de que um bilionário de 32 anos de idade, de nome Dmitry Itskov (pesquise este
nome na internet se duvida), estaria investindo em pesquisas pare fazer o upload seu próprio cérebro para uma máquina
e tornar-se imortal até 2045.
Fiquei pensando na eternidade e
na ânsia que o homem tem de se tornar eterno a qualquer preço em um sentimento
de vaidade que quer transcender a sua própria existência.
E neste caso não estou falando em
perspectiva espiritual, mas em uma eternização física.
Em diferentes graus, todos nós temos
medo de sermos esquecidos, ou melhor, de não sermos lembrados.
Com um bebê de menos de três
meses em casa, muitas vezes me pego orientando minha esposa e minhas filhas
mais velhas, em caso de minha falta prematura, de contarem à pequena Martina
quem era seu pai e, claro, destacarem minhas qualidades (jamais meus defeitos).
Lembro de um livro que li, A
Lição Final , de Randy
Pausch, em que o autor, sabedor de ter contraído uma câncer de pâncreas
que o conduziria à morte, dentre outras realizações, decide levar seu filho
Dylan para nadar com os golfinhos, porque segundo ele “Uma criança não esquece
facilmente que nadou com golfinhos”.
Na verdade era a necessidade de tornar o seus momentos com seus filhos
tão marcantes para que estes guardassem uma lembrança dele. Nada mais que a
necessidade que temos de ser eternos.
Somos assim, buscamos não sermos esquecidos.
Perdi meus pais cedo e o mês de maio me remete, com muita força, ao
sentimento de saudade de minha mãe.
E a temática aqui abordada não surge por acaso, mas em razão de uma
postagem de minha tia que, com a sensibilidade que lhe é peculiar, marcou-me no
facebook postando um vídeo que segundo ela era uma das músicas prediletas de
minha mãe.
No curto espaço de tempo que convivemos, minha mãe não teve tempo de me
falar de seus gostos musicais, havia informações e orientações mais relevantes a serem trocadas.
Mas por mais estranho que pareça, ou talvez não tenha nada de estranho, não me
lembrava de conhecer ou ter ouvido a referida música antes, mas ao escutá-la
foi como se a conhecesse a tempos, gostasse dela e a melodia fizesse parte de
minha vida.
Naquele momento, percebi a eternidade de minha mãe em meu coração e, de
certa forma, a eternidade de quem lhe apresentou esta canção. Talvez minhas
filhas, no futuro, não se lembrem de sua avó paterna que não conheceram e só
tiveram contato através das histórias contatadas por seu pai. Mas ao lembrarem
de seu pai, lembrarão, mesmo sem saber, indiretamente de sua avó, uma vez que eu
sou fruto desta mulher e de seu amor, e por sua vez de seu bisavô materno, que
nem seu pai conheceu, mas que participou na formação de sua mãe e por consequência
na formação de seu pai.
Enquanto Dmitry investe sua fortuna no upload de seu cérebro, eu prefiro
investir no upload de meu coração amando os que me rodeiam para que eu me
eternize em suas vidas, na sua mente e na sua descendência, ainda que esta
jamais saiba quem eu sou. Afinal de contas, a semente só brotará se morrer.