quinta-feira, 12 de abril de 2012

Tive vontade de chorar...

Ontem e hoje, frente à decisão do STF a favor da morte de anencéfalos, tive vontade de chorar.
Algo dentro de mim me deixou angustiado, triste, sofrido...
Lembrei-me dos dois filhos que perdi ainda em início de gestação. Não tinham nada! Não tinham mão, não tinham olhos, não tinham nome, NÃO TINHAM CÉREBRO... mas eu os amava e os amo até hoje! Não tinham sexo definido! Minhas filhas dizem que eram meninas, mas eu não sei e jamais saberei!
A única coisa que sei sobre estas crianças, sim, sempre as considerei desta forma, é que tinham amor! Amor do seu pai, da sua mãe, de suas irmãs! Sobretudo tinha amor de Deus!
E, em que pesem muitos considerarem que minha mulher fôra, por determinado tempo, um sarcófago ambulante, sei que aprendemos muito e o amor em nossa família foi frutificado pelos poucos momentos que estas VIDAS estiveram conosco!
Lembrei também de minha mãe, agonizando sobre a cama, com metástase em seu cérebro (que certamente não mantinha mais atividade cerebral exigida para que a pessoa seja respeitada em sua dignidade), que já não tinha condições de manter sua respiração de forma adequada.
Jamais, entretanto, pensei em abreviar sua curta estimativa de vida! Sei que sofria ela, sofríamos nós, mas cada segundo com ela fazia com que aprendêssemos um pouco mais e ficássemos mais fortes para encarar a vida. Eu curti cada fração de momento em que partilhei de sua companhia, ainda que ela não soubesse que eu estava ali.
O sofrimento é muito doído quando o vivemos, mas é extremamente valioso quando sobrevivemos a ele! Com o sofrimento passado aprendemos e ensinamos!
Após a decisão do STF, temos vidas de primeira classe (mulheres mães) e de classe menos relevantes (filha(o)s anencéfal(a)os)! 
Mas esta é a (in)Justiça dos homens! Cristo já os havia perdoado na cruz: "eles não sabem o que fazem"!
Por fim, lembro que respeitar a vida humana (de qualquer espécie e condição) não é privilégio dos que crêem, mas de todos aqueles que respeitam o seu semelhante, ainda que ele seja um pouco diferente!
Mas esperar o que de uma sociedade que está mais preocupada com o pitbull baleado e com a ararinha azul do que com crianças que não são anatomicamente perfeitas?
Mais uma vez, tenho vontade de chorar...

sábado, 7 de abril de 2012

Deus escolhe sempre o melhor - Reflexões de Páscoa 3

Este post é o fim da "triologia" sobre reflexões de Páscoa.
Como disse ao final do último post, não podemos perder o que nunca tivemos.
Quem me conhece sabe que "perdemos" uma vida no início deste ano, o que nos foi, e ainda é, muito doído. Sofri eu, minha esposa e minhas filhas.
Cheguei a pensar que Deus havia nos tirado uma criança, mas na verdade, tinha era nos dado a benção de conviver com aquela vida no ventre da Letícia por tempo razoável para aprendermos com ela e melhorarmos como pessoas.
Aquela vida nunca fora nossa, nunca nos pertenceu. Na verdade Deus nos deu o privilégio de tê-la, ainda que humanamente pensando, por curto espaço de tempo. Nuca a perdemos!
E Deus, em sua bondade infinita, continua a nos privilegiar com pequenos mimos. Tivemos a notícia de que amigos nossos foram brindados por Deus com uma nova vida e que sua família crescerá.
Ficamos felizes por eles e nos sentimos também agraciados por este momento. É como se Deus, na alegria dos nossos amigos, também nos presenteasse com esta vida. Toda vida é dom de Deus e é, na essência, para fazer o mundo melhor.
E nosso mundo, após a notícia, já está melhor!
Quando perdemos nossa criança, diante da tristeza de minha filha mais velha (7 anos), restou-me abraçá-la, como a dividir a dor que sentíamos, e dizer-lhe o que acredito: "Deus sempre guarda algo melhor para nós!".
Apesar da dor daquele momento e da dificuldade de crer nisto, depositei toda a minha pouca fé nestas palavras (que não era muita naquele momento). Deus, que é misericordioso, respondeu-me: "EU  não faço pela metade!".
A notícia desta nova vida confirmou a promessa. Não, não é nosso o filho que vai nascer, mas a alegria de nossos amigos preenche o vazio deixado em nosso coração há um tempo atrás.
A felicidade daqueles que amamos pode sim ser nossa felicidade. Este é o segredo do Amor!
Deus cuida sempre de nós!
Como pai aprendo isto a cada dia quando minhas filhas me pedem coisas que "iriam mudar as suas vidas e fazê-las as crianças mais felizes do mundo" (sim, este é o argumento que usam) e nego este pedido. Não nego por ser um pai mau. Apesar delas não entenderem esta negativa, com minha "sabedoria" sei o que elas precisam e o que não é o momento de terem.
Deus, com sua sabedoria infinita, faz isto muito melhor do que eu. Me dá o que necessito e o que é bom para mim e não o que eu quero, apesar de muitas vezes pensar que perdi a chance "de ser a pessoa mais feliz deste mundo".
Trago esta reflexão porque também os discípulos não entenderam, em um primeiro momento, a morte de Cristo e a forma como Ele se conduziu até ela. Aproveite-mos esta Páscoa para refletirmos que nem o Filho de Deus escolheu o seu caminho, mas seguiu o Plano de Deus que conduziu à salvação do mundo.
Deus escolhe sempre o melhor para nós, embora muitas vezes não compreendamos!
Feliz Páscoa!

Diário de Maria (reflexões de Páscoa 2)

Como referi no post anterior, acordei pensando em duas músicas de Martin Valverde. A segunda é Diário de Maria.
Esta música nos faz refletir sobre a morte na cruz pelo olhar de Maria, Nossa Mãe.
Ao ver o Cristo na cruz ela via, além do homem desfigurado, aquele pequeno bebê que um dia lhe encheu a vida de alegria e mudou o sentido do seu viver para a sempre.
Deve ter sido difícil achar razoabilidade naquilo tudo!
Deve ter lembrado do Anjo Gabriel lhe dando a notícia de sua concepção imaculada, da conversa com São José, da fuga de Heródes, do nascimento de Jesus em condições adversas... 
Quando olhava a cruz via o seu pequeno filho na manjedoura, depois um pouco mais velho na carpintaria com seu pai, brincando com os amigos...
Quem tem filhos sabe do que estou falando! Eles são, e sempre serão, nossos pequenos bebezinhos, não importa se já tenham seus próprios filhos ou se calçam 44! Talvez o maior medo de nós pais, seja perdê-los! E quem já perdeu um sabe a dor que se sente!
E Maria, sabia desde o começo que seu Filho não era seu e que, ao fim de tudo, ele iria sacrificar-se por nós. 
Entretanto, jamais titubeou em aceitar sua missão, colocando-se sempre como serva do plano de Deus.
E é este o exemplo que nossa Mãe nos deixa nesta Páscoa. Aceitar o plano de Deus ainda que exista sofrimento, pois nada é nosso. A vida que vivemos é graça concedida pelo Pai e para serviço Dele e da execução de seu plano.



Discípulo (reflexões de Páscoa)

Hoje é Sábado de Aleluia! A tristeza e o silêncio celebrados ontem se transformam em alegria e esperança, pois Ele vive!
Acordei pensando em duas músicas hoje. Uma delas é Discípulo, de Martin Valverde, que segue ao fim deste post.
A reflexão é sobre São João, o discípulo amado de Jesus. O jovem que, apesar de todas as incertezas próprias da idade aliadas às da própria circunstância da prisão de Cristo, era quem estava lá ao pé da cruz não abandonando seu mestre.
Imagino, e Martin Valverde faz-nos refletir neste sentido, que deve ter sido um conforto para o Filho de Deus, sofrendo como homem no madeiro, ter o amor do olhar de um amigo querido naquele momento.
Se seu lado humano pedira que o Pai afastasse aquele cálice horas antes, provavelmente, no olhar deste amigo ele tenha se sentido reconfortado em abraçar a nossa salvação, pois sabia que humanamente não estava só.
Certamente foi muito complicado para São João estar ali. E se o prendessem? E se o crucificassem por ser amigo de Cristo? Mas, apesar de tudo, ele estava lá. Mas não estava sozinho, estava acompanhado da Mãe do Salvador. Talvez, depois da fé no Cristo, aquela Mulher fosse seu maior consolo.
De presente, do amigo que estava no fim de sua vida humana, recebeu o maior presente de todos. Jesus lhe dá o que de mais precioso tinha enquanto homem, a sua Mãe. 
Que sejamos como São João e não abandonemos nosso Mestre mesmo nos momentos em que tudo parece falhar. E se faltar a coragem necessária para isto, socorramo-nos em nossa Mãe Maria que nos foi dada pelo próprio Cristo.