Ontem e hoje, frente à decisão do STF a favor da morte de anencéfalos, tive vontade de chorar.
Algo dentro de mim me deixou angustiado, triste, sofrido...
Lembrei-me dos dois filhos que perdi ainda em início de gestação. Não tinham nada! Não tinham mão, não tinham olhos, não tinham nome, NÃO TINHAM CÉREBRO... mas eu os amava e os amo até hoje! Não tinham sexo definido! Minhas filhas dizem que eram meninas, mas eu não sei e jamais saberei!
A única coisa que sei sobre estas crianças, sim, sempre as considerei desta forma, é que tinham amor! Amor do seu pai, da sua mãe, de suas irmãs! Sobretudo tinha amor de Deus!
E, em que pesem muitos considerarem que minha mulher fôra, por determinado tempo, um sarcófago ambulante, sei que aprendemos muito e o amor em nossa família foi frutificado pelos poucos momentos que estas VIDAS estiveram conosco!
Lembrei também de minha mãe, agonizando sobre a cama, com metástase em seu cérebro (que certamente não mantinha mais atividade cerebral exigida para que a pessoa seja respeitada em sua dignidade), que já não tinha condições de manter sua respiração de forma adequada.
Jamais, entretanto, pensei em abreviar sua curta estimativa de vida! Sei que sofria ela, sofríamos nós, mas cada segundo com ela fazia com que aprendêssemos um pouco mais e ficássemos mais fortes para encarar a vida. Eu curti cada fração de momento em que partilhei de sua companhia, ainda que ela não soubesse que eu estava ali.
O sofrimento é muito doído quando o vivemos, mas é extremamente valioso quando sobrevivemos a ele! Com o sofrimento passado aprendemos e ensinamos!
Após a decisão do STF, temos vidas de primeira classe (mulheres mães) e de classe menos relevantes (filha(o)s anencéfal(a)os)!
Mas esta é a (in)Justiça dos homens! Cristo já os havia perdoado na cruz: "eles não sabem o que fazem"!
Por fim, lembro que respeitar a vida humana (de qualquer espécie e condição) não é privilégio dos que crêem, mas de todos aqueles que respeitam o seu semelhante, ainda que ele seja um pouco diferente!
Mas esperar o que de uma sociedade que está mais preocupada com o pitbull baleado e com a ararinha azul do que com crianças que não são anatomicamente perfeitas?
Mais uma vez, tenho vontade de chorar...