segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

MARCAS

Estivemos no litoral no último fim de semana, na casa dos meus sogros, "visitando" nossas filhas mais velhas que aproveitam as férias com os seus amados avós que não medem esforços para tornar a vida delas mais fácil e mais feliz.

Minha filha Giana, 8 anos, contou-me que havia acordado para ver o sol nascer. Discorreu sobre sua capacidade de madrugar e de como os outros dormem muito, o que não ocorre com ela.Coisas de criança que está aprendendo a contar o tempo e fantasia todos os eventos, por mais singelos que possam ser. 

Com ela em meu colo, após ouvir o seu relato, disse-lhe que no próximo dia que ela acordasse cedo para ver o sol nascer, se eu estivesse na praia, ela me convidasse que eu seria seu parceiro como admirador da aurora que surgiria.

Segue o dia, levo minha filha Martina, quase 4 anos, ao mar. Possivelmente ela não lembrava do mar do verão passado ou, talvez, pela sua idade naquele momento anterior o banho não tenha sido tão emocionante com enfrentamento de ondas "enormes" (maiores que ela) e "lá no fundo" (para ela é, claro). Foram uns 30 minutos de êxtase e alguns litros de água salgada ingeridos, para ela. Para mim, a felicidade de ser companheiro de minha filha mais nova em um típico "programa de pai e filha", afinal era fim de tarde e somente nós fomos à praia.

Retornando à casa, contei para a Letícia sobre a felicidade dela ter ido ao mar comigo (como se fosse a primeira vez), como se divertiu e como isto me deixou feliz como pai por poder estar lá, neste momento ímpar, com a minha filha. 

Minha mulher, sábia que é, disse: "estas coisas marcam para sempre os filhos".

Fiquei com isto na cabeça, pois no dia a dia, muitas vezes não damos a atenção necessária aos nossos filhos. Adormeci pensando o quão importante é deixar marcas positivas a estes presentes que Deus nos deu.
Tão logo fechei os olhos (e parecia que os tinha fechado a pouco), senti uma mão leve em minhas costas e uma vozinha de fada que me disse: "Pai, o sol vai nascer. Pediste para eu te acordar!"

Abri os olhos e, no ambiente ainda meio escuro, vi a minha doce Giana. Olhei o relógio que marcava 05:50hs, era domingo, e não tive dúvida: "Gi, é muito cedo! Volta para a cama e me acorda mais tarde!". Virei para o lado e ouvi seus passos na escada (dormimos no segundo andar e ela no térreo).

Neste momento veio a minha mente as palavras de minha esposa: "estas coisas marcam para sempre os filhos".

Levantei, coloquei um casaco e desci as escadas. Fui ao quarto dela. Ela estava sentada olhando para fora, certamente esperando o sol nascer, o qual só veria quando este estivesse alto, pois há um muro no final do pátio para onde dá a janela.

Disse que colocasse uma roupa quente pois iríamos ver a aurora na sacada do segundo andar. Subimos, acomodamos as cadeiras, nos enrolamos em um edredom para nos protegermos da brisa fria da madrugada e esperamos o astro rei que não chegou.

Um paredão de nuvens densas no horizonte impedia que víssemos o nascer do sol, mas conseguíamos ver a força de seus raios colorir aos poucos escuridão.

Falamos sobre como a terra gira, qual seria o horário na China naquele momento, como o mundo é redondo, no sonho de vermos um dia a aurora boreal e que aquela, sendo no sul, seria austral... Enfim, fizemos um "programa de pai e filha" recheado de uma longa conversa na qual, mais do que palavras, trocávamos amor e afeto. 

Mais uma vez fiquei realizado. Consegui ser um pouco pai ao invés de ser apenas um homem que tem filhos.

Se ela ficou marcada pelo nosso encontro, não sei! Mas eu, com certeza, fiquei!

Ah, e o sol? Não, ele não apareceu. Diante de sua ausência e uma vez alimentada a alma, fomos alimentar o corpo e, é claro, continuar nossa conversa de "pai e filha".