Este ano tem
sido relativamente difícil para mim. Algumas mudanças importantes na família,
no trabalho e pessoalmente, têm exigido um pouco mais deste homem....
Em
determinado momento, em conversa franca e sincera com minha amada esposa,
lembrando de fatos do passado (que nem sempre são dias de sol), indaguei
fortemente qual o motivo para que Deus tivesse preservado minha vida por estes
quarenta anos... Não seria melhor ter deixado eu perecer para que não passasse
pelas provações que me consumiam e pelas dores que senti...
Claro que foi
um momento de desespero, cansaço e falta de serenidade para olhar o entorno e
ver as maravilhas que ELE tem propiciado em meu dia a dia. Mas a indagação veio
e veio forte!
Mas como diz
meu irmão, Deus é pai, e como tal, mima seus filhos. E, nesta semana que
passou, mais uma vez recebi e percebi o afeto de Deus em minha vida, através de
um daqueles mimos que fazem a gente ver a vida diferente.
Minha filha
Ana Carolina, ontem, recebeu o sacramento da primeira Eucaristia, seguindo a
vida de fé Católica de seus pais.
Durante a
semana, refletindo sobre este acontecimento, percebi que eu e minha esposa
estávamos a possibilitar a nossa pequena Ana Carolina o que de mais importante
poderíamos lhe dar: a Esperança.
Ao concluir a
primeira Comunhão, ela percorrera todos os sacramentos que cabiam aos seus pais
a conduzirem. Daqui para frente, o Crisma, o Matrimônio etc, dependeriam de uma
decisão pessoal sua. Havíamos cumprido nossa missão. Claro que temos muito
ainda a ensinar a esta nossa filha, assim como às demais, mas hoje, com muito
orgulho, eu e a Letícia, podemos dizer que conseguimos levar ela até o ápice de
nossa fé, que é comungar do sacrifício de Cristo, mesmo que ela, assim como
nós, não consiga ainda ter a verdadeira dimensão do que isto significa como
teve Santa Terezinha, por exemplo.
Através da
Eucaristia nossa vida passa a ter Esperança, pois nada se acaba aqui, e, com Ela,
tudo faz sentido!
Se minha
filha não fizer curso superior, não falar outra língua, não tiver sucesso
profissional,... terá o mais importante. Poderá ser feliz ao se encontrar com o
próprio Cristo em uma celebração e lembrar daquilo que seu pai esquece
seguidamente: a nossa vida é muito mais do que vivemos aqui!
Ao me dar
conta de ser partícipe deste momento de minha filha tive um orgulho gigante. Eu
cumpria uma parte da missão de pai e educador, talvez a principal parte.
Após este
momento de glória, senti-me envergonhado, ao perceber quão pouco digno era de
fazer parte deste momento na vida de minha filha e, quanto mais, de orgulhar-me
dele. Como poderia festejar este acontecimento em minha vida quando, há poucos
meses não via sentido em meu viver?
Então,
lembrei que havia lido que "nós apenas reconhecemos os títulos de glória;
é Deus quem nos concede". Minha “dignidade” em viver este momento não era
minha, mas era de Deus em mim. Ele quis que eu participasse e me alegrasse com
isto. Se eu não via sentido em minha vida ter sido preservada, era porque ela
não me pertencia e porque não era a mim que cabia lhe dar sentido.
ELE tinha, e
tem, um plano e um sentido para o meu viver.
E então
entendi que nossa vida não é nossa e não é para nós, mas é d’ELE e para ELE.
Certamente,
virão outros momentos de indagações como as narradas no início deste texto, mas
rogo a Deus que me dê memória e me ajude a não esquecer o que senti ontem: eu
ajudei minha filha a participar do sacrifício da Cruz e isto também dá sentido
a minha vida!
Obrigado
Senhor pelo dom da minha vida e por dar sentido a ela, ainda que eu não o
perceba. Obrigado pela minha esposa Letícia que está sempre disposta a ouvir as
angústias deste pobre homem e sem a qual a Ana Carolina não existiria. Obrigado
especial à Mariana que foi muito importante na formação de nossa filha neste
último ano.